Não acredito em coincidência, mas
isso não significa que eu tenha alguma crença em uma vida pautada em um destino
que nos obriga a viver sem possibilidade de mudança; acredito nas pessoas e no
potencial que elas possuem para fazer um novo mundo.
Esses dias, fiquei pensando que
relação poderia haver no fato de Luiz Gonzaga e Raul Seixas, ambos nordestinos
e respeitadores de suas raízes, morrerem no mesmo mês do mesmo ano – agosto de
1989; mais ainda, ambos vinham de um ressurgimento para o público, o primeiro
ao lado de seu filho (Gonzaguinha), caminhando o Brasil em shows memoráveis, e
Raulzito, fazendo dezenas de apresentações com o disco Panela do Diabo; para
não alongar essas linhas, termino o parágrafo lembrando que Raul morreu com a
idade que morreria Gonzaguinha dois anos depois.
Esses três homens (Gonzagão, Raul
e Gonzaguinha), que politicamente seguiam caminhos bem diferentes, um
conservador, outro anarquista e, o terceiro, um comunista, não esperaram o
destino, fizeram história, a deles e a nossa!
Na verdade, eu não ia escrever
nada sobre essas figuras fantásticas, fiz apenas pelo fato de acabar de ler uma
matéria do Brasil de Fato sobre o filme “Gonzaga de pai para filho” e por Raul
ser parte do meu cotidiano; pensava apenas em compartilhar um pouco dos meus
pensamentos sobre a importância de fazer escolhas em nossas vidas, de ter
liberdade material e subjetiva para decidir nossos destinos.
Apesar de já estarmos no quinto
parágrafo, eu poderia começar esse texto agora, falando da forma como minha
mãe, viúva com aproximadamente 20 anos de idade, saiu do sertão do Ceará e nos
levou para seguir nossas vidas na capital de Pernambuco; se assim fizesse,
seguiria falando sobre o mesmo tema que venho tentando desenvolver, a escolha
dos nossos caminhos. Não é fácil ir direto ao ponto, vou pausar perto dos meus
20 anos, quando fui dividir apartamento com um amigo muito querido.
Quando saí de casa, não foi por
rebeldia ou pelo fato de minha mãe não deixar isso ou aquilo, na verdade, fiz
por morarmos (eu, minha mãe e dois irmãos) em um quarto e sala e eu sentir que
todos/as precisávamos de mais espaço. No momento que decidi a mudança, minha
mãe recebeu a notícia com uma naturalidade incrível, claro que falou dos
cuidados e disse que na hora que eu precisasse era só voltar. A forma respeitosa
como a mãe sempre tratou minhas decisões (mesmo quando discordava/discorda) foi
fundamental para segurança que tenho nos caminhos trilhados para minha vida;
apenas anos depois fiquei sabendo o quanto ela sentiu minha saída.
Luar é bem mais precoce que eu,
aos 10 anos conversou com a mãe dela e disse que queria morar comigo e Áurea,
depois disso ela veio apenas nos comunicar. Aos 11 anos, já morando conosco em
João Pessoa, ela resolveu (agora em outubro) abrir o coração do tamanho da
saudade que sentia da mãe e que queria voltar para Recife; eu sei o que é esse
sentimento e não poderia deixar de construir as possibilidades para
concretização de sua decisão.
Essa semana, ao avisar para o
motorista da Van que não renovaríamos a matrícula, deu um nó na garganta que
ainda não consegui engolir. Espero que minha filha seja uma mulher segura,
capaz de tomar suas decisões sem submissão a seja qual for a esfera de poder;
direi sempre minha opinião (favorável ou contrária), respeitarei sua decisão e
estarei perto para comemorar ou consolar, não quero ser daqueles que dizem “eu
te disse”; quem sabe, no futuro, eu não conte do verdadeiro tamanho da saudade
que já estou sentindo.
“Não pare na pista
É muito cedo Prá você se acostumar Amor não desista Se você pára O carro pode te pegar”
Raul Seixas
|
“Oh! que saudade do luar da minha terra
Lá na terra branquejando folhas secas pelo chão Este luar cá da cidade tão escuro Não tem aquela saudade do luar lá do sertão”
Luíz Gonzaga
|
“Eu vou cantar... Por aí
Que nada se repete sob o sol O movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual Pois nada se repete, nem o sol”
Gonzaguinha
|
Termino com mais um escrito do fundo do baú (lá dos meus 28 anos)...
Distância da Minha Princesa
Parece que estou
milhões de quilômetros de distância da Princesa Luar
O vazio invade minha
vida
A saudade invade meu
coração
A agoniar de não
resolver essa distância consome meus dias
Suas lágrimas ao
telefone trazem lágrimas aos meus olhos
Quatro aninhos
sofrendo por saudade
Chorando ao ouvir
música e ver a foto do papai
A tristeza de não
resolver essa questão aperta meu coração
Como eu queria, neste
momento, cotar estórias para dormir
Acariciar os cachos
de minha princesa
Ouvir sua voizinha
completar as páginas da nossa estória
Ouvir sua voizinha
pedindo para eu fazer a barba
Ouvir sua voizinha
declarando um amor do tamanho do sol e da lua
Queria ter todos os
dias ao seu lado
Sentindo seu perfume
Levando para escola
Buscando na escola
Fazendo sua comida
Ouvindo você dizer
que o almoço do papai é o mais gostoso
Como eu adoraria
saber o rosto de cada amiguinho que você conta o nome
Perguntar à sua
professora, ao vivo e a cores, como foi seu dia
Ver cada nova letra
aprendida
Ouvir cada nova
palavra pronunciada
Ver cada desenho
feito para um pai tão perto e tão distante
Como é difícil voltar
a dormir
Imaginar suas
lágrimas por minha causa
Imaginar ser um nada
em certos momentos
Será que tenho culpa
de tudo isso acontecer?
Acredito, e espero, que não
Mas a confiança que a
Princesa Luar tem em seu papai é gigante
Algo ele tem que
descobrir
Alguma solução ele
tem que arrumar
Pena o castelo de outras
poesias não mais existir
Pena minha fantasia
de castelos não ter adiantado
Pena aos 28 anos
fraquejar
Como dói saber que
existe dor e agonia maior que a de um coração apaixonado
Como dói ver aos 28
anos o mundo da fantasia despencar
Como dói aos 28 anos
descobrir não conseguir fazer sempre a alegria de minha princesa
Por mais que eu tente
guinar esse poema não consigo
Queria conseguir
transformá-lo na alegria de amar e ser amado pela princesa Luar
(Tárcio Teixeira – aos 28 anos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Oi gente, comentem e façam sugestões! Abraço.