Comecei
a fazer esse texto em uma direção, quando percebi estava em outra, e não consegui
mais ajustar. Já aconteceu isso comigo, mas nas outras vezes era o álcool que confundia,
misturava, escancarava e apresentava uma “síntese misturada” de sentimentos e
caminhos. Não vou tentar arrumar, acredito ele deva ser assim mesmo,
desordenado, misturado, quem sabe no futuro ele não direcione novos rumos. A dúvida é se alguém termina ler um texto desse tamanho, mas vamos lá!
O
Dia que Parte da Terrinha Parou
1977,
mesmo ano que eu nasci, Raul Seixas lançava “O Dia Em Que a Terra Parou”,
sucesso que sobrevive há décadas nas “paradas de sucesso” e hoje serve de
reflexão sobre o impacto do Coronavírus em nossas vidas. Claro que existem
várias diferenças entre a música e a realidade, primeiro que não é bem um sonho
de um “Maluco Beleza” que vivemos, mas um pesadelo de uma sociedade que sofre
as consequências do modo de produção que direciona nossas vidas.
A
Terra tem parado aos poucos, quase que em um rodízio entre continentes, país,
regiões, estados, cidades, tudo isso em um movimento articulado em base a
estudos e formas de conhecimentos (científico ou não), não parou no mesmo dia,
como em um sonho. Podemos dizer que na Parahyba começamos a “desacelerar mais
rapidamente” na terça-feira, 17 de março, oito dias hoje (24/03/2020).
Igrejas,
fiéis, alunos/as, professores/as, esses/as pararam, como na música. Por outro
lado, muitos/as empregados/as, que não deveriam ir “pro seu trabalho”, seguem
amontoados em call centers e fábricas que não terão para quem vender sua
produção. Assim como o médico que, infelizmente, ainda tem muita “doença pra curar”, também precisaremos do padeiro e do soldado, que seguem na ativa.
A
Terra não parou! Não podemos, nem vamos, parar 100%. Precisamos de saúde,
alimentação, segurança, água, telecomunicações, luz, cultura e arte. A cada dia
fica mais escancarado quem não nos deixa parar, quem nos suga até em tempos de
pandemia, quem só pensa no lucro, na economia e não na vida.
Quero Compartilhar Minha 1ª Semana com Vocês
Não
sou, não somos, uma ilha em meio a tudo isso. Na segunda-feira, 16 de março, estive
com várias pessoas, além de ter tido três reuniões, sendo uma delas a do
Diretório Estadual do PSOL que aprovou nota pública com sugestões para
enfrentar o Coronavírus. No dia seguinte, como boa parte da capital da Paraíba,
fui desacelerando, não saí de casa, fiquei sem saber por onde recomeçar, um
pouco desnorteado, de férias, com congresso do PSOL cancelado, sem pessoas para
encontrar, sem articulações políticas, sem encontros com as pessoas que gosto...
Mas, aos poucos, fui conseguindo “olhar” os próximos meses e reiniciar a vida
sob uma nova lógica organizativa.
Quarta-feira,
entre 13h30 e 14h20, estive na Rádio Cruz das Armas e passei rapidamente na sede
do Partido. Ao entrar em casa as roupas foram direto para “roupa suja”, lavei
bem os braços e a barba e fui tomar um banho. No dia seguinte fui ao meu
encontro com Pedro Faissal para entrar na quarentena lembrando de cuidar da
mente, das emoções. No domingo fui comprar umas coisas para comer e beber.
Sempre com os mesmos cuidados que já relatei antes.
Sexta,
sábado, segunda e hoje (24 de março de 2020) eu não saí de casa. O que não
significa que fiquei sem fazer nada, ao contrário, tenho estado muito mais
ocupado que o “normal”, mas com uma vantagem, tenho Áurea Augusta ao meu lado,
companheira com quem tenho aproveitado as boas horas do confinamento.
E
Eu Com Isso? E Nós Com Isso?
No
domingo, quando saí de carro para comprar umas coisas, chorei muito, não foi simples
perceber que eu estava em nosso carro, com os vidros levantados, ar-condicionado
ligado, indo comprar comida, e lembrar que muitos/as estão nas ruas, sem ter
moradia, sem ter comida, sem saber sequer da existência do Coronavírus. Não é a primeira vez
que choro com a desigualdade, seja sentindo as consequências na pele ou no peito, mas, por algum motivo, dessa
vez foi diferente, não sei explicar o motivo.
Quando
escutei o áudio de Franklin, companheiro de luta contra a desigualdade, lembrando
que Pátria é Território, Soberania e Povo, não tinha como não partilhar do
sentimento que ele descrevia, pois muitos/as estão despatriados/as dentro do
próprio país, diante de tanta negativa de direitos.
Pior
é saber que, por mais que cada um/a de nós façamos “nossa parte”, nossas ações nunca
serão suficientes perto das necessidades coletivas. Claro, não vamos deixar de
fazer nossa parte, vamos fazer cada vez mais, mas é fundamental aproveitar a
forma como o Coronavírus vem escancarando as desigualdades sociais,
descortinando quem se apropria da riqueza produzida pela força dos trabalhadores/as
e, mesmo enriquecendo cada vez mais, trata os/as trabalhadores/as como
descartáveis.
O
Que Posso/Podemos Fazer?
O
que cada um de nós temos feito em nossa privacidade para ajudar, ficará em
nossa privacidade. Mas existem contribuições coletivas que cada um de nós
podemos fazer e propagandear, seja para compartilhar conhecimento, seja para
buscar conquistas coletivas, seja para denunciar o que precisa ser denunciado
em tempos tão difíceis.
Fazia
tempo que não fazíamos o Cuscuz com Debate, domingo fiz um com o médico Marcos
Bosquiero sobre o Coronavírus, ajudou na prevenção, na união de pessoas, no
alegrar e ocupar o dia de várias pessoas. Essa semana faremos um sobre “atividade
física e quarentena”, medida simples que ajuda no coletivo, você com certeza
pode ajudar com seu conhecimento.
Hoje
separei algumas poesias que estavam “no fundo da gaveta”, muitas que sequer
foram vistas para além dos meus olhos, uma exposição que pode alegrar ou incentivar
alguém a escrever ou compartilhar sua arte. Poesia sempre toca alguma, lembro
de uma minha que compartilhei um vez, foi um teste na verdade, eu não gostava
dela, um amigo leu e ficou doido por ela, demorei acreditar que era verdade (rsrsrsrs).
Podemos ajudar de várias formas.
A
Luta de Classes Não Para?
Tem
muito oportunista por aí, querendo lucrar com a dor. Dizendo que é hora de orar
e não de bater panela. Muitos/as dizem isso de coração, mas outros como pura enganação,
querendo lucrar com a dor, ganhar espaço político com o sofrimento, querendo
fortalecer seu amigo empresário e fingindo ser solidariedade.
Alguns
já estão testando “se cola” a suspensão das eleições. Claro, percebem que o
bolsonarismo já começou a "descer ladeira", seus apoiadores/as despencam nas
pesquisas e tentam usar da dor para suspender a democracia. Não podemos
pestanejar, urgente defender nossa democracia.
Confesso
que pensei em cancelar nossa primeira atividade coletiva de planejamento da
nossa pré-campanha de vereador, mas, se assim fizéssemos, eram eles que ganhariam
espaço, vamos manter nossa agenda e trabalhar em uma plataforma virtual que
consiga juntar o maior número de pessoas que queiram fortalecer nossa
democracia e construir uma alternativa coletiva para Câmara Municipal de João Pessoa.
Do
Que Sinto Falta (além de abraçar familiares e amigos/as)?
Amo
minha casa, amo a companhia da minha companheira, mas também amo a rua, ter
contato com gente, conhecer o novo, isso eu sinto falta, estou já ligando para
o 145 (só os fortes lembram).
Disso eu sinto falta, rua e gente!
O
que você vai fazer primeiro quando acabar nossa quarentena? Eu vou comprar uma
cerveja no mercadinho perto de casa e andar pela rua conversando com as pessoas
aqui perto, simples assim.
Será
que alguém chegou até aqui? Ficou grande, eu sei, mas a vontade de escrever foi
maior. Saudade
de vocês! Ou nossa vitória é coletiva, ou não será!