29 de setembro de 2018, eu estava lá. Elas deram uma lição
de como defender o Brasil. As mulheres mostraram ao mundo que não
podem passar por cima delas e seguir como nada tivesse acontecido.
Naquele dia elas retiraram a pele de cordeiro que cobria o lobo,
deixaram seus dentes e garras expostas ao mundo. Naquele ano eu era
candidato ao Governo da Paraíba. A história não perdoou os
candidatos que não se posicionaram sobre o assunto; não perdoou os
candidatos que não disseram #EleNão; não perdoou os candidatos que
o defenderam, estes sofreram as consequências.
Poucos dias antes desse 29 de setembro histórico para o povo
brasileiro - digo histórico pelo fato de ter mudado a história das
eleições daquele ano - eu estava em Guarabira, na nossa Paraíba,
lá eu tive a sorte de participar de uma prévia organizada pelas
mulheres na cidade. Sim, foi sorte, fui para cidade para uma pauta da
campanha de governador e ganhei esse presente. Na saída do ato eu
estava arrepiado, olhos alagados e voz embargada ao tentar falar para
Adjany (guerreira amiga que fazia parte da chapa comigo naquelas
eleições) o que eu pensava sobre aquela atividade, sobre o ato que
viria a ser “apenas” uma prévia do que muitos de nós não
imaginávamos o que seria o sábado seguinte em todo Brasil.
Em Guarabira eu vi uma relação intergeracional que não via há
tempos. Vi uma juventude ativa, não “apenas” animando ato como
em muitas ações contra o Golpe de 2016. Vi pessoas que não eram
militantes ocupando as calçadas, saindo para as varandas e janelas
de suas casas. Ouvi músicas e palavras de ordem horizontalizadas. O
microfone não tinha don@, todas e todos tinham voz, e ninguém
ocupou o espaço para aparecer ou fugir do tema, as falas foram
claras: #EleNão.
No ato de Guarabira eu vinha de uma noite de duas horas de sono
dentro de um carro. Tinha saído de quase 00h do debate da TV Diário
do Sertão, em Cajazeiras, e chegando na casa do companheiro
Belarmino, em Guarabira, perto das 6h. Praticamente só tive tempo de
tomar café e ir para entrevista no Portal Mídia, mas, independente
do peso do dia, terminei com a bateria carregada, ali minha bola de
cristal, ou melhor, minha análise de aproximação da realidade,
disse: as Mulheres mais uma vez darão a linha, o dia 29 de setembro
vai mudar nossa história, vai marcar nossas vidas; só senti energia
parecida no Fora Collor, primeiro ato que participei na vida, e nos
levantes de 2013, quando setores da esquerda não souberam ser
horizontal e perderam o bonde da história, felizmente as Mulheres
não cometeriam o mesmo erro.
O dia 29 de setembro foi mais do que eu pensei. Os que
estavam paralisados pelo medo, passaram a comprar o debate; os que
estavam com falas derrotistas, viram a vitória como possibilidade;
os que não conseguiam mais argumentar, não abandonaram mais nenhum
debate.
No dia 29 de setembro todos viram as garras e os dentes do lobo, que
não era “apenas” um nome, mas um conjunto de ideias que
conseguiam esconder até então: o auxílio-moradia de quase 1 milhão
de reais, mesmo tendo casa em Brasília; os 200 mil recebidos da JBS
(lava-jato) e não devolvido para empresa, mas para o Partido que
devolveu o mesmo valor ao #EleNão; o voto do #EleNão com Temer na
EC95, que congelou gastos públicos com Segurança, Saúde e
Educação; o voto do #EleNão com Temer na deforma trabalhista; as
declarações contrárias ao direito das domésticas; as declarações
de que seu ministro da cultura seria Alexandre Frota; que seu posto
Ipiranga iria aumentar imposto para os mais pobres e reduzir para os
mais ricos. Naquele dia, a pauta que garantia o apoio dos mercadores
da fé ao #EleNão não faziam mais sentido diante da luz que
espantava as trevas, as pautas identitárias se afirmaram, não
regrediram uma linha de lá para cá, mas muito ainda existe para
conquistar.
Os desdobramentos daquele 29 de setembro de 2018 teve
impacto nas eleições e na vida de tod@s. Fico feliz de
ter ficado do lado certo, de não ter tentado ser neutro, de não ter
tido medo de perder voto, como perdi alguns, de não ter deixado de
defender o que acredito, de ter seguido a luta das mulheres, de ter
tido a firmeza de ir aos debates e entrevistas e ter dito: #EleNão,
#EleNunca.
Obrigado, companheiras!
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