Nos
últimos anos tenho buscado montar parte do quebra-cabeça que forma
a vida,
a minha vida, tenho visto fotos, perguntando, escutado, observado.
Podemos fazer um grande esforço, mas nunca saberemos nossa história
na íntegra.
Na maior parte, o que temos são nossas lembranças, por vezes
distorcida da realidade, e o que nos contam, com
todas as variações de um telefone sem fio.
Nem mesmo o impacto dessas lembranças, reais ou construídas,
podemos saber em sua completude.
Esses
dias minha mãe, contando uma conversa recente que teve com minha vó,
perguntou se eu lembrava da história dos carros de romeiros. Claro
que lembro, e lembro com alegria, só não imaginava que a vó
lembrava ou que isso mexia com ela.
Eu
tinha uns 7 ou 8 anos. Morávamos na saída da cidade (Mombaça), bem
no caminho dos/as romeiros/as que iam para Canidé ou para Juazeiro
do Norte. Quando eu avistava de longe aquele monte de Pau de Arara
chegando, reduzindo a velocidade e se ajuntando, eu saía correndo
para dentro da bodega: “vó, vô, chegou um monte de romeiro”.
Não
sei quando isso começou, mas sei que era a forma que a vó achava
para não tumultuar a bodega.
Assim que os caminhões estacionavam a vó mandava lago que eu fosse
com alguns pacotes de cocada para vender nos caminhões, depois eu
voltava correndo com uma garrafa cheia de água e um copo, ali
completava minha missão. Dessa forma os romeiros que tinham alguns
cruzados a mais podiam entrar na bodega e comprar mercadorias mais
caras como bolo, doce de leite e
suco. Assim todo mundo era atendido e não perdíamos clientes.
A
vó é
e sempre
foi muito criativa, eu sempre estava nos planos, além das cocadas,
eu lembro da venda de dindim e de máscaras de carnaval, aquelas de
papelão com elástico, as vendas eram sempre na porta de escola
particular, pense numa vó esperta. Também em Mombaça - mas na casa
que morei com a mãe, a Márcia e acho que já com o Felipe - lembro de sair com uma bacia coberta por um pano de
cozinha, vendendo uns pães que a mãe fazia, era sucesso, venda
fácil.
Eu
não era obrigado a fazer essas tarefas (ao menos que eu lembre), nem
deixava de estudar ou brincar por causa delas. Lembro que eu ficava
um pouco envergonhado no começo, mas percebia a necessidade e
gostava de ajudar. Sem dúvida que esses acontecimentos são parte
desse todo que sou, ou da parte que imagino ser. Essas
histórias devem
ter
ajudado para “os pulos” que dei diante
das
contas que
chegaram
anos depois,
já vendi cachorro quente, lanche na madrugada, adesivo, ímã de
geladeira, camisas, poesia. Na militância também ajudou, sempre
estive entre os melhores vendedores de jornal, rifa, agenda. Cheguei
a fazer uma formação para vender assinatura de jornal, mas não
rolou, era um formato muito burocratizado, desisti, gosto
do olho no olho.
Não
sou quem sou por causa disso, claro; mas sou o que sou também por
causa disso. Naquela
época o
país estava com
uma
inflação galopante; eu não entendia porque parte da minha merenda
da escola (com carimbo de venda proibida) era vendida no
mercadinho; os movimentos sociais e a esquerda se firmava; eleições
diretas estavam prestes a acontecer…
mas eu
era criança e não
lembro de dificuldade no período da cocada, lembro de subir no pé
de manga, no pé de goiaba; de correr livremente pelas ruas; dos
banhos de rio; do caldo de cana do tio Dioclécio; do delicioso
alfinim puxado e esticado até
chegar no ponto.
O engraçado é que comecei a
digitar esse
texto pensando em escrever sobre minha pré-candidatura ao Governo da
Paraíba, eu ia descrever o Congresso do Partido, o ânimo da tropa,
minha animação, agradecer cada militante e agradecer
os
apoios que chegaram junto com a divulgação de que serei candidato
ao Governo da Paraíba em 2018. Agora acho até que nem precisava,
que todos/as já estavam
devidamente
agradecidos/as. Acho
mesmo
que essas linhas “é coisa” de quem entra nos “enta” na
próxima semana (31/10), isso
completarei minha quarta década.
Na
verdade, penso que essas linhas precisavam
ter vindo, nas
entrelinhas, e entre elas e o agora, muito passou. É esse pacote que
arregaça as mangas para as novas tarefas da mesma vida que segue,
mesmo sabendo que a maior parte das pessoas conheçam apenas as partes (o Assistente Social, o Pai, o Militante, o Carnavalesco, o Companheiro) e tire suas
conclusões.
Tô no pique! Vamos
que vamos!
Muito bonito o texto, me lembro das coisas boas também, acredito que a necessidade e o aperto que passamos foi muito construtivo e muito mais pra você, que foi como um pai-irmão para nós, um grande abraço do irmão que te ama!
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