Uma
aluna da minha companheira, sabendo que eu fui candidato ao governo da Paraíba,
olhou para ela e disse: “a senhora deve morar naquelas casas bem grandes”,
segundo a estudante do Fundamental I, “as mulheres desses homens moram em casas
assim”. Posso não ter sido tão fiel com as palavras dessa criança, mas é o
sentimento de boa parte do povo do nosso país, de que política é para rico!
Não vou nem entrar no debate sobre o machismo quando ela fala "as mulheres desses homens", já é muito difícil
caber na cabeça da menina que aqui em casa não tem piscina, nem jardim, nem elevador
e que andamos de ônibus ou em um 1.0. Espero que ela tenha entendido a explicação e que um
dia isso seja diferente, vi muito isso durante a campanha, alguns dizendo na
cara dura que todos/as os políticos são iguais, outros que tem é que vender o voto mesmo e,
uma outra parte, acreditando que é possível fazer diferente em um processo eleitoral.
Em
Cajazeiras, ao lado de Gobira, e João Pessoa e Campina, nos espaços da minha
militância, foram os espaços nos quais os aspectos mencionados foram menos
presentes, penso que: no primeiro caso devido a o companheiro Gobira ser um
sapateiro e ter o espaço que teve no PSOL; no outro, entendo ser devido as
pessoas conhecerem mais sobre o Tárcio e saber que eu era candidato em oposição
a tais práticas.
Verdade
que nosso partido não tem nenhuma relação com as oligarquias locais, que
fizemos uma campanha com menos de um por cento dos recursos do governador
eleito, que o salário de Assistente Social (minha profissão) não possibilita
bancar uma campanha eleitoral, mas nada disso foi motivo para impedir alguns
dos casos que vou contar nesse texto, mas farei sem dizer o nome da cidade,
assim evita um carimbo negativo diante de um fato pontual.
Em
uma das cidades que passei, eu precisava ser empreiteiro ou mestre de obras
para ganhar voto, não faltou gente pedindo para levantar muro; em outra, um rapaz
chegou afirmando sua honestidade e completou dizendo que bastava eu dizer onde
ele precisava levar os títulos; já nas atividades culturais, vez por outra
chegava alguém pedindo para eu pagar uma dose de cana, um vinho ou uma cerveja.
Antes de negar, eu dizia que nossa campanha era diferente, que nossa militância
não se mistura com esse tipo de crime, alguns diziam que estavam brincando,
outros ficavam com vergonha, mas ainda tinham os sem vergonha que diziam: “assim
você não ganha nada”.
É
importante que se diga que muitas pessoas não percebem ilegalidade nesse
processo, o vício é tão presente que alguns pensam que “a política é assim
mesmo”; como a garota que pensa que a política é para rico, afinal de contas
voto não é barato e eu não sei levantar muro. Outra coisa, esse pensamento sobre
a política não é “coisa de pobre” ou miserável, como teimam em dizer outros que
querem seguir se enganando, como se não tivesse nada com isso; é coisa de rico
que espera ganhar uma licitação ou ser livre de impostos; de partidos que
trocam votos ou tempo de TV por secretarias, ou cargos em governos; e é de alguns conhecidos que não
pedem “favor” mas dizem: “se não for assim você não vai chegar a lugar nenhum”.
Importante que se diga, nos últimos três casos estamos falando de pessoas com
formação, que não pensam ser assim a política, mas que fazem ser assim o atual
processo eleitoral.
Alguns
olham em meus olhos e dizem que “o povo não quer mudança, vota nos mesmos”,
geralmente quem diz isso culpa os pobres e vota nos mesmos. Eu vejo que a maioria
de nós, povo, ou melhor, classe trabalhadora, queremos mudança sim, basta olhar
a ampliação dos votos na oposição de esquerda, ou a ampliação dos votos brancos
e nulos e das abstenções; melhor, basta olhar para ampliação das mobilizações sociais
por direitos e por liberdade em todo planeta.
Caso
eu entendesse que a política vive no limite do processo eleitoral, não estaria
nela, assim como a criança do começo do texto, eu sei que não teria condições
de pagar. Entendo a política como a disputa ideológica e econômica entre as
classes sociais, a eleição é parte desse processo, assim como são as
manifestações por direito e a disputa pela democratização da comunicação, para
citar poucos exemplos.
Alguns
preferem focar na visão do nada muda, no “é assim mesmo”, eu fico com
aqueles/as que acreditam que a transformação vem do Fundamental I ao EJA, na
educação formal e na luta por direitos. Foi acreditando nisso que tivemos quase
nove mil votos para Governador da Paraíba, todos livres, sem comprar sequer um
voto, sem pagar sequer a passagem para que a pessoa fosse votar, até na
democracia eleitoral o passe livre ajudaria.