Como tenho feito nos últimos
anos, faço um breve texto de “despedida” antes do Carnaval (sempre com letra
maiúscula), período do ano que visto o manto de São Carnaval e, como ele não
tem e-mail ou celular, desligo do mundo por esses quatro ou cinco dias.
Quando resolvemos morar em João
Pessoa, passamos a brincar de forma intensa as prévias carnavalescas em nossa
cidade, muito massa por sinal. Além do texto que fiz sobre as virgens (vai no
final desse para os interessados/as), gostaria de trazer um pouco do que vi nas
prévias, inclusive sobre o “mundo do trabalho”.
Alguns dizem que o Carnaval é uma
ferramenta de dominação e exploração, penso que um pouco disso também, não
teria como ser algo separado do capitalismo, vivemos nesse sistema cruel que “transforma”
pessoas em mercadoria. O que não consigo é entender como alguns ignoram os
diversos outros aspectos da mágica chamada Carnaval, ele também é cultura,
renda extra, fantasia, liberdade, reencontros, rua sem bilheteria (Olinda... Quero
Cantar...), até o transporte público torna-se mais democrático (olha o pulo da
catraca aí gente).
No Carnaval minha agenda é a dos
blocos, curto meu individualismo em meio a coletividade; não marco encontro, não
ligo o despertador, olho muito pouco para o relógio e são raras as vezes que
marco compromisso nesses dias sagrados.
Alguns criticam a falta de novidade
nas ladeiras de Olinda, discordo! A criatividade renova cada Carnaval, as músicas
ecoam de forma diferente, os metais e a percussão jamais são tocados da mesma
forma. Mas vamos lá, se querem dizer que ele é sempre igual, que seja, assim
poderemos dizer que todos os anos o Carnaval é fantástico e que em time que ta ganhando
não se mexe.
Depois conto para vocês como foi
o Carnaval, agora vou às prévias.
Encontro de gerações: Melhor Idade e Muriçoquinhas
Na segunda, dia seguinte as
Virgens de Tambaú (ver texto no final), fui pular no Bloco da Melhor Idade, não
tinha muita gente como nos anos anteriores, mas a animação dos/as presentes era
a mesma, com um grande reforço: uma apresentação do Urso Panda, campeão do Carnaval
Tradição 2012.
Os pulos discretos dos/as foliões
da melhor idade trazia uma nostalgia gostosa dos tempos que não vivi (uma frase
que só o Carnaval permite), segui no ritmo dos/as presentes até chegar as
Muriçoquinhas com seu pique eletrizante, saí das machinhas para o frevo rasgado.
Na chegada das Muriçoquinhas ao
Busto de Tamandaré, seu estandarte cumprimenta o estandarte da Melhor Idade,
este último bate em retirada para seguir seu baile em outro espaço e ficam
os/as novos/as foliões com suas espuminhas (essa parte é irritante :).
Ao olhar do Busto toda extensão
da Epitácio Pessoa fiquei pensando: será que quando essas e as outras gerações
de Muriçoquinhas ficarem adultas seguiram em marcha para Quarta de fogo? Se a
resposta for positiva, o Galo que se cuide ;)
Terça do Doid@ é Doid@
Esse bloco vai crescer, é muito
doido/a nesse mundo querendo mudar o mundo. Esse povo é tão doid@ que este
doido brincou o Doid@ é Doid@ sem ir ao Doid@ é Doid@.
Quarta-feira de Fogo - Diversão e Exploração do Trabalho.
Confesso que pensei que perderia
minha noite, não sabia que a costureira precisava ficar com meu manto para
fazer o novo; fui para folia muito chateado quando percebi que minha fantasia não
estava em casa. Minha quarta-feira de fogo começou a mudar apenas quando encontrei
Mano, amigo da época dos Correios, e sua família, boa energia para direcionar
energias positivas para divertida noite junto aos estandartes das Muriçocas.
No Carnaval converso muito com
os/as vendedores/as de cerveja, dão ótimas dicas e sabem de muita coisa que se
passa; os/as trabalhadores/as da limpeza urbana é outro time que tenho grande
admiração (os/as amigos/as mais antigos sabem disso :).
Vocês devem ter percebido que do
Palco das Muriçocas até a Epitácio Pessoa não se via vendedor/a com seu isopor
de cerveja, sabem porque? Perseguição aos trabalhadores/as. Conversei com
alguns deles a decepção era tremenda, eles achavam que seria diferente o trato
da gestão municipal com os ambulantes, muitos perderam mercadorias e
equipamento de trabalho, pois não tem condições financeiras de pagar o resgate
(multa) do material sequestrado (apreendido). O vereador e organizador das Muriçocas, Fubá, precisa urgentemente exigir
explicações aos responsáveis por essa medida absurda e cobrar a liberação do
material apreendido sem pagamento de multa.
Ainda sobre os/as
trabalhadores/as, perceberam o pessoal da limpeza urbana em peso durante o
Bloco? Pois bem, fui conversar com os colegas e descobrir que aquilo era
ampliação da jornada de trabalho, estavam lá para catar as latas de alumínio;
deve ter sido esse o motivo para não avistarmos os/as trabalhadores/as que
trabalham com reciclagem em meio ao Bloco. Ficam
três perguntas: os/as catadores/as foram empregados pela EMLUR? Os/as trabalhadores/as
da EMLUR estão recebendo hora extra? Quem ficou com as latas coletadas pela
Prefeitura de João Pessoa?
Quinta no Mangue
Hoje tem ato em defesa do Rio
Jaguaribe, 15h, em frente ao Shopping Manaíra. Vai ser um belo bloco em defesa
do Rio. Vejam texto publicado em nosso blog sobre o assunto.
É isso aí povo, nos vemos nas
ladeiras de Olinda ou quando eu voltar para nossa linda e acolhedora João
Pessoa.
Forte Abraço e Viva São Carnaval!
Anexo
Virgens de Tambaú: alegria até no atraso.
Só no Carnaval tem dessas coisas.
Domingo estive no desfile das Virgens de Tambaú, além das horas de atraso,
quando definitivamente a banda estava pronta e virada tocando as músicas, foi a
vez do motorista; acreditem, o motorista do primeiro trio sumiu.
A cantora toda empolgada gritava
“pode arrastar seu motorista, agora é só folia”, ao perceber que a folia seguia,
mas o trio não saía do canto, foi a vez do cantor (já em um tom mais firme) gritar:
“pode arrastar motorista”. Depois dos constantes apelos eu resolvi parar de
contar os chamados pelo motorista.
Após aproximadamente 30 minutos o
motorista apareceu, digo, um motorista apareceu, não tenho com afirmar se era o
motorista contratado para guiar o primeiro trio da festa que entrava na boleia.
Alguns teriam se perguntado onde teria ido o motorista, outros dito palavrões,
alguns até jogariam objetos no trio; mas no Carnaval não, todos/as dançavam
e/ou pulavam com toda e qualquer música que tocava.
Passados os contratempos
iniciais, o álcool já subia para cabeça de muita gente, acho até que um pouco
já circulava em meu cérebro; mas não o suficiente para distinguir entre as
belas e as nem tão belas virgens. Encontrei amigos de militância, figuras
ilustres da política paraibana, amigos de profissão e outras milhares de virgens
que não conheço.
Olinda que desculpe a afirmativa,
mas as Virgens de Tambaú dão um show nas Virgens do Bairro Novo. Sem existir competição
as meninas (e os meninos, já que as mulheres também participam da brincadeira)
desfilavam na avenida de forma alegre e descontraída. A festa não tem idade ou
sexo, apenas seres humanos em puro lazer. Por mais que possa ter ocorrido algum
incidente homofóbico (o que ainda não tive conhecimento), no geral a festa foi
tranquila.
Antes de terminar, para não dizer
que foi tudo tão tranqüilo assim, a Gaby Amarantos deu um show na avenida, um
verdadeiro arrastão quando o trio comandado por ela descia a ladeira. Para
minha sorte, ela cantou “Ex Mai Love” na frente do local que eu estava, muito
divertida a música, apesar de muitos dos meus mais chegados não gostarem;
difícil foi caminhar no sentido contrário enquanto seguia o rumo da parada de
ônibus.
Quiçá, em um futuro breve, a
liberdade de vestir e de ser dure mais um simples e perfeito Carnaval.
Vou parar aqui, preciso ir ao
Bloco da Boa Idade.