São poucas
pessoas que podem ter a alegria que eu tenho, não é todo dia que aos trinta e
quatro anos podemos contar com um avô de noventa anos e uma avó de oitenta. Este
mês estou de férias, trinta dias no total, mas apenas oito foram realmente para
férias, os demais dediquei ao CRESS/PB e a campanha de Renan Palmeira (PSOL-
50) para Prefeitura de João Pessoa.
No primeiro dia das verdadeiras
férias eu tive uma noite muito bacana (apesar de curta), conversei com minha
avó e vimos juntos o anime “Vida Maria”. Fomos ao referido vídeo após ela
contar um pouco de sua jornada e eu perceber a aproximação com as “Marias” do
vídeo. Comecei as férias achando que tinha problemas e precisava descansar, mas
a vó, mesmo sem saber, deu uma mega lição de moral ao mostrar duas coisas:
fragmentos de sua história; e que eu preciso conhecer a minha história.
Caramba!
Estamos lutando para ter direito de conhecer nossa história durante o período
da ditadura em nosso país e, muitas vezes, não conhecemos a nossa. Apenas aos
trinta e quatro anos fiquei sabendo que meu pai (falecido quando eu tinha três
anos) reunia para debater política e que ele ouvia músicas alternativas no
Sertão (com S maiúsculo) do meu Ceará. Acho que meu pai não chegava a tanto (será?),
mas descobri que nosso Iguatú-CE era reduto de comunista.
Voltando para
Josina... O pouco que a vó escreve, foi fruto de “desenhar letra na areia com
um pedaço de pau”; ela foi mãe muito jovem, e nem tão jovem também, já que
foram quinze barrigas, hoje são quatorze filhos vivos. Com lágrimas nos olhos,
uma mistura de tristeza e vitória sobre a vida, ela conta o que significa
dividir uma banana para quatro filhos e ficar com fome, tendo vertigens com o
quinto filho na barriga; lembra que os gêmeos, meus tios mais novos,
“escaparam” pela ajuda de um grupo de médicos que mandavam uma caixa com vinte
e quatro litros de leite por mês.
A história
teimava em se repetir, minhas tias e minha mãe, não podiam perder tempo desenhando
letra, imaginem a quantidade de tarefas domésticas; mas no Sertão é assim,
estamos prontos para romper a ordem. Algumas tias resolveram romper barreiras,
ou melhor, resolveram estudar ou, simplesmente, não se submeter a todas as
tarefas domésticas. Minha mãe sempre lá, contribuindo com manutenção e, ao
mesmo tempo, “permitindo” que ela fosse rompida.
Dona Josa,
como também é conhecida minha avó, começou a vender bolo e cocada, iniciativa
que se somava as atividades que meu avô desenvolvia no campo e as tarefas
domésticas ou não que desenvolviam os tios e as tias. Fui o primeiro neto
formado e tenho uma prima que já segue no doutorado, as coisas realmente não
são as mesmas de outrora, ao menos não para alguns de nós.
Minha mãe
casou adolescente, ficou viúva após uns quatro anos de casada, voltou para casa
dos pais e depois resolveu descobrir que o mundo é muito maior do que o que
estava a frente dos seus olhos. A mãe nunca deixou de viver, apesar de não ter
dado o ritmo que gostaria a seus passos; lembro das vezes que eu ajudei a
vender os pães caseiros que ela fazia já inspirada nos caminhos de dona Josa,
pois havia aprendido e não passaria
pelas mesmas coisas; formou-se após os quarenta
anos e esse mês voltou a trabalhar. Somos três filhos da Rosemãe, crescidos
juntos em um quarto e sala, aprendendo com a vida, com nossas vidas; mágica, é
como a mãe é chamada por alguns, como muitas brasileiras arrumando uma forma de
viver e possibilitar que os filhos não tivessem mais uma “Vida Maria”.
Não diria que
fui vítima de trabalho infantil, o sustento não dependia das minhas atividades
e eu tinha muito tempo para estudar e brincar, as lembranças que tenho das
vezes que o vô pedia para eu levar cocada para vender aos romeiros, ou quando a
vó pedia para eu vender umas máscaras e dim-dim na frente da frente da Escola
Castro Alves (Mombaça-CE), eu tinha um sentimento de alguém importante que era de confiança
e podia ajudar. Aos quatorze anos fiz mecânica de auto no SENAI e estagiei em
uma empresa de ônibus, onde tive meu primeiro contato com a luta coletiva dos
trabalhadores. A mãe sempre alertava para os riscos de determinadas escolhas,
mas permitia que tomássemos a que entendêssemos mais correta, às vezes, quando
dava errado, ela simplesmente acolhia e ajudava a fazer os devidos ajustes.
Todas as
lembranças desse texto chegaram nessa noite tão massa do meu primeiro dia de
férias. Sei que tem muita coisa que não sei, não sei nem mesmo se vou saber ou
se devo realmente tomar conhecimento, mas sei que quero saber mais da minha
história, da nossa história. Essas mulheres, a mãe e a vó, mostraram em meu
primeiro dia de férias que não tenho um problema, mas uma opção de vida, a mesma que a delas, romper a ordem!
Plagiando
Gonzagão... Se eu pudesse escolher, eu seria neto da Josina e filho da Rosimar,
teria nascido no Sertão do Ceará, crescido em Pernambuco e escolhido a Paraíba
para viver outros longos anos; escolheria ainda ser assistentes social e não
baixar a cabeças para as injustiças do mundo; e nesse momento, nesse exato momento,
dia 27 de julho de 2012, às 20h52, eu teria chegado da primeira caminhada de
campanha de Renan Palmeira Prefeito de João Pessoa (PSOL-50) e estaria
terminando esse texto que apresento para dizer que amo minha mãe e minha avó.
Que siga a
história!
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